Por Patricia Melo Sampaio*
“As palavras não são as coisas, mas não há coisas sem as palavras”. R. Koselleck
É fundamental reconhecer o poder das palavras e, neste caso, dos conceitos e noções que elas carregam. A expressão saiu das aulas de História Indígena e do Indigenismo, disciplina da graduação de História da UFAM ministrada em 2014. A ideia era atualizar a discussão historiográfica acerca dos povos indígenas no Brasil e, principalmente, descontruir pré-conceitos. Comecei pela “tribo”. Não pode usar para referir-se a populações ameríndias. De jeito nenhum. E porque não? Historiador que se preze tem que perguntar “como as coisas que são chegaram a ser como são”. Então, há que se perguntar de onde veio a noção de “tribo”. Ela tem suas raízes na ideia evolucionista de sociedade na qual os grupos humanos partiam de estágios incipientes de desenvolvimento para “evoluir” (ou não) em direção à “civilização”, conquistando um status qualitativamente distinto em relação ao seu “mundo primitivo” ou “tribal”. Trata-se de um conceito equivocado, etnocêntrico e carregado de preconceito que, há tempos, é desconsiderado pela Antropologia. As sociedades humanas organizadas não obedecem a nenhum caminho pré-determinado e único em direção a um ideal de civilidade que, neste caso, tinha (tem) como parâmetro o mundo europeu ocidental. Como se referir aos povos indígenas? De preferência, como eles quiserem se chamar, mas, na ausência desta informação, recomenda-se usar “povos indígenas”, “populações nativas”, “povos ameríndios”. Tribo não pode.
*Patricia Melo Sampaio é professora da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e pesquisadora do CNPq. Fez doutorado pela Universidade Federal Fluminense (UFF/RJ). Suas áreas de pesquisa são história indígena e do indigenismo no Brasil e da escravidão africana na Amazônia.
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